Especialistas consultados por EXAME foram unânimes em dizer que discussão sobre a recuperação dos mercados passa pelo período que vão durar as quarentenas. “Se o mundo parar por dois meses, o estrago na economia vai ser gigantesco. Vamos ter desemprego como nunca antes”, afirmou o Rodrigo Franchini, sócio e diretor de produtos da Monte Bravo Investimentos.
Os dados de emprego dos Estados Unidos, divulgados na quinta-feira (26) serviram de prévia dos impactos do coronavírus. Somente em um semana (finda em 21 de março), os pedidos de auxílio desemprego dispararam de 283 mil para 3,28 milhões.
Para tentar salvar a economia americana de um colapso, governo e Federal Reserve trabalham para injetar 6 trilhões de dólares, que devem ser usados para financiar empresas e famílias.
Embora a medida tenha aliviado parte da tensão no mercado, Gustavo Aranha não vê um forte movimento de recuperação no curto prazo. “Esses pacotes demoram muito até terem fins práticos. Os governos vão ter que entrar no jogo, mas não vão acabar com a volatilidade do mercado.”
No Brasil, as expectativas para a economia também não são animadoras. Há poucos dias, o Banco Central rebaixou sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,2% para zero. Ainda assim, a estimativa foi considerada “otimista” por muitos economistas.
A perspectiva do BTG é a de que o PIB brasileiro tenha contração de 1,5% neste ano, caso a quarentena dure até o fim de abril. Se durar até junho, como pedem parte dos especialistas da área da saúde, a diminuição do PIB poderia chegar a 4% pelas previsões do banco.
No ano, o principal índice de ações do país, o Ibovespa, amargou um dos piores desempenhos do mundo, chegando a despencar até 48% entre janeiro e março. Desde o fim 2019 até o fechamento de quinta-feira (26), as perdas da bolsa brasileira somavam 1,377 trilhão de reais, de acordo com dados do serviço de informações financeiras Economática.
Quando o efeito do coronavírus passar, a tendência é a de haja maior apetite a risco, o que beneficiaria os mercados emergentes. Mas a decisão de investir no Brasil ou não, deve passar por como o país vai lidar com a crise.
Além do risco político, que vem ganhando mais notoriedade no mercado, também está no radar dos investidores os estímulos fiscais e monetários promovidos pelo governo e Banco Central.
“É preciso aumentar os gastos públicos de curto prazo para suavizar a crise, mas, diferentemente de 2008, vamos precisar de maior responsabilidade com as contas públicas. Na época, tínhamos saúde fiscal, agora temos doença fiscal”, disse Frasson.